O programa Desenrola Brasil, bandeira do governo Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) para renegociar débitos e impulsionar o consumo das
famílias, pode contemplar até 40 milhões de brasileiros que estão endividados e
têm renda de até dois salários mínimos (equivalentes hoje a R$ 2.604).
Os detalhes da política foram discutidos nesta semana em reunião entre membros do Ministério da Fazenda e da Febraban (Federação Brasileira de Bancos). O desenho, porém, ainda não está fechado.
A iniciativa é uma das apostas do governo do PT para
destravar o consumo e estimular a economia. Hoje, quase 70 milhões de
consumidores estão negativados por inadimplência. O patamar de endividamento
também é recorde.
Dados do Serasa mostram que, em outubro, o valor das dívidas
dos clientes negativados chegava a R$ 301,5 bilhões, dos quais R$ 215 bilhões
estão fora do sistema bancário. São débitos com concessionárias de energia
elétrica, abastecimento de água e carnês de loja.
Nesse universo, cerca de R$ 150 bilhões estão nas mãos de 35
milhões a 40 milhões de brasileiros com renda de até dois salários mínimos
-público potencial do novo programa.
A ideia do governo é criar um fundo garantidor, com recursos
públicos, para servir como uma espécie de colchão de segurança na negociação
dessas dívidas. Assim, a expectativa é conseguir que os bancos repactuem os
valores com taxas de juros mais baixas, tendo a garantia de que a União vai
cobrir o prejuízo em caso de não pagamento.
Na outra ponta, os credores só poderão acessar a modalidade
se concederem descontos na dívida. Essa será uma condição obrigatória, embora
ainda não haja definição se haverá um percentual mínimo de abatimento.
As estimativas preliminares apontam que, para atender a todo
esse público de 40 milhões de brasileiros, o fundo garantidor precisaria ter de
R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões em recursos do Tesouro Nacional. Isso porque os
bancos projetam uma inadimplência mais elevada, entre 25% e 35%, dado que o
público-alvo da medida são consumidores que já estão negativados.
A projeção de inadimplência é um fator importante para essa
conta porque, quanto maior é a expectativa de calote, mais o fundo será
demandado. Nesse cenário, ele poderia servir de garantia para um volume mais
tímido de empréstimos.
O funcionamento operacional do programa deve se dar da
seguinte maneira. O fundo tende a ficar sob responsabilidade do Banco do
Brasil, que será o gestor e operador dos recursos. Mas a centralização das
negociações deve ser feita pelos bureaus de crédito -um deles, a própria
Serasa.
Essas instituições conseguem ter um panorama mais amplo
sobre as dívidas dos consumidores, inclusive com empresas de telefonia,
concessionárias de serviços públicos ou crediários. Os bancos, por sua vez, têm
um alcance mais limitado e conseguem ter informações mais precisas apenas dos
débitos no próprio setor.
A intenção é disponibilizar um site em que o consumidor
consultará suas dívidas e demonstrará interesse na negociação. A partir daí, as
empresas credoras farão uma oferta de desconto. Quem oferecer o maior
abatimento terá preferência na fila de pagamento.
Em outra ponta, os bancos também farão ofertas de
financiamento no valor necessário para quitar o débito. Vale a mesma lógica: a
instituição que oferecer a menor taxa de juros terá acesso preferencial ao
programa.
Cada consumidor terá um limite de dívidas a serem negociadas
pelo Desenrola. O valor, ainda em discussão, será calculado já após os
descontos. Ou seja, se um credor tem R$ 200 a receber, mas topar liquidar a
fatura por R$ 100 (com abatimento de 50%), são esses R$ 100 que contam para o
limite.
O programa também terá uma data de corte para delimitar
quais dívidas poderão ser incluídas na negociação.
Caso o Desenrola seja lançado já nos primeiros meses do ano,
como planeja o governo, a referência pode ser 31 de dezembro de 2022 ou 1º de
janeiro de 2023. Ou seja, apenas dívidas contraídas até essa data seriam
incluídas na repactuação.
O Desenrola começou a ser gestado ainda na campanha
eleitoral. Integrantes da equipe de Lula esperavam acenar para um público
importante: as mulheres, parcela mais endividada da população.
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